domingo, 14 de setembro de 2008

Projeto Um por todos... Deus por nós








Culminância do projeto: Um por todos... Deus por nós! – Consciência Ecológica

1° ano do Ensino Fundamental

Dramatização:

Deus criou a natureza perfeita: fez o céu com nuvens, estrelas, sol e lua. Fez a terra com lindas árvores e flores e também rios com águas limpas. Os animais então... nem se fala! Cada um mais charmoso que o outro: o jacaré com seus dentes enormes, abre e fecha a boca para louvar ao Senhor; a coelhinha vai contente em busca de seu companheiro coelhinho; o porquinho, sempre alegre, canta louvores fazendo ronc, ronc; e a galinha, toda enfeitada, faz cocoricó junto ao galo todas as manhãs para anunciar o novo dia que o Criador nos deu.
Mas muita gente tem destruído esta natureza bela. Não podemos ficar parados, precisamos ajudar a natureza não colaborando com essa destruição.

Música:

Arca de Noé
(Marilene Vieira)

A gente passa a vida, esquentando a cabeçaParece até que o mundo está virando às avessasNotícias nos jornais, sumiram jacarésGolfinhos e peixinhos quase fora das marésA gente fala, fala, mais ninguém nos escutaE o homem progredindo pro efeito estufaDo jeito que isso tá, pra nós não vai dar péSó mesmo construindo outra arca de Noé








Ô, ô, ô, que este mal não se cometaÔ, ô, ô, longa vida pro planetaDesculpe chaminé, mas a nuvem não é fumaçaSó sei que este progresso tá ficando sem graçaTem máquina que fala, tem ônibus na luaMas o desmatamento aqui na Terra continuaA gente fala, fala, mais ninguém nos escutaE o homem progredindo pro efeito estufaDo jeito que isso tá, pra nós não vai da péSó mesmo construindo outra arca de Noé




















Estes enfeites e máscaras estão sendo confeccionados para a apresentação da culminância do projeto “Um por todos... Deus por nós! – Consciência Ecológica” a ser realizado em minha escola no dia 29 de setembromáscara porquinho


lua



árvore

Projetos Pedagógicos: Deus me fez Especial III

Esta foi a apresentação da minha turma de 1° ano na culminância do projeto: “Deus me fez especial III – Somos Casa de Deus” Versinho: Deus me fez especialDo meu corpo vou cuidarNele não aceito o malDos vícios vou me afastar Também é essencialO meu próximo amarUma idéia genialÉ querer o ajudar Música: O meu coraçãoJá dei pra JesusPor isso meu pulmãoNão vai ser da Souza CruzMinha boca não é boca de fogãoNem meu nariz se parece chaminé. Xô xô xô fumaça prá láTo sem essa de poluição. (2X) O meu corpo é Lugar especialEu moro dentro dele e Jesus mora tambémPor isso vou amarE dele vou tratarCuidando com carinhoDo que Deus fez só pra mim.
Xô xô xô fumaça prá láTo sem essa de poluição. (2X)

(Marilene Vieira – Pare e Pense – faixa 6)

Fico devendo as fotos!!!!!!!!!!

sábado, 13 de setembro de 2008

Vinícius de Moraes

Vinícius da Moraes

Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913 na Gávea, hoje Jardim Botânico.
Sua infância já revelava traços do movimento artístico (Arte Moderna que ainda estava longe de acontecer).
Em meio à educação rígida, o descobrimento da poesia como a possibilidade de transformação da vida.
No ano de 1933, Vinícius se inicia nas rodas boêmias e literárias. Publica neste mesmo ano sua primeira coletânea de poemas “O Caminho para a Distância”.

Vinícius e sua época
Primeira Fase (1933-1943)

Abrange sua estréia em 1933 até 1943.
Cinco livros da 1ª fase: “O Caminho para a Distância”, “Forma e Exegese”, “Ariana, a mulher”, “Novos Poemas” e “Cinco Elegias”.
Influência do Neo-Simbolismo e da renovação católica (poemas com tom bíblico).
Deslocamento da obra para um sensualismo erótico: prazer da carne X formação religiosa.

O Poeta
A vida do poeta tem um ritmo diferenteÉ um contínuo de dor angustiante.O poeta é o destinado do sofrimentoDo sofrimento que lhe clareia a visão de belezaE a sua alma é uma parcela do infinito distanteO infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.
Ele é o etemo errante dos caminhosQue vai, pisando a terra e olhando o céuPreso pelos extremos intangíveisClareando como um raio de sol a paisagem da vida.O poeta tem o coração claro das avesE a sensibilidade das crianças.O poeta chora.

Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristesOlhando o espaço imenso da sua alma.O poeta sorri.Sorri à vida e à beleza e à amizadeSorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.O poeta é bom.Ele ama as mulheres castas e as mulheres impurasSua alma as compreende na luz e na lamaEle é cheio de amor para as coisas da vidaE é cheio de respeito para as coisas da morte.O poeta não teme a morte.Seu espírito penetra a sua visão silenciosaE a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.A sua poesia é a razão da sua existênciaEla o faz puro e grande e nobreE o consola da dor e o consola da angústia.
Influência da “Política dos Governadores”:

As dificuldades da 1ª Guerra Mundial;
Movimentos rebeldes;
A queda da Bolsa de Nova Iorque;
Os descontentamentos dos estados menores;
A Semana de Arte Moderna.

Segunda Fase (a partir de 1943)

Ligação de Vinícius de Moraes à reação contra o movimento modernista de São Paulo.
Início da ditadura em 1937: Vinícius conheceu seus primeiros êxitos literários.

A Poesia

A Segunda Fase compreende os livros “Poemas, sonetos, e baladas”, “Ontologia Poética”, “Orfeu da Conceição”, “Livro de Sonetos”, “Novos Poemas II” e “Para viver um grande amor”.
Ao final da década de 50, Vinícius dedica-se mais intensamente à música popular e começa a se afastar da diplomacia.

Soneto da Mulher ao Sol

Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruzA flor dos lábios entreaberta para o beijoA pele a fulgurar todo o pólen da luz.Uma linda mulher com os seios em repousoNua e quente de sol - eis tudo o que eu precisoO ventre terso, o pelo úmido, e um sorrisoÀ flor dos lábios entreabertos para o gozo.Uma mulher ao sol sobre quem me debruceEm quem beba e a quem morda, com quem me lamenteE que ao se submeter se enfureça e soluceE tente me expelir, e ao me sentir ausenteMe busque novamente - e se deixes a dormirQuando, pacificado, eu tiver de partir...


Poemas Infantis e Cancioneiro Popular

Do período que compreende 1964 à 1979, o Brasil sofre o golpe militar de 1964, cujo propósito era “pôr ordem em casa” .
A censura e a tortura não calaram as vozes dos nossos artistas e muitos tiveram que se exilar.
Ao longo desses 15 anos, Vinícius atinge o apogeu na carreira de compositor musical e afasta-se definitivamente da carreira diplomática.


A Casa

Era uma casa muito engraçadaNão tinha teto, não tinha nadaNinguém podia entrar nela, nãoPorque na casa não tinha chãoNinguém podia dormir na redePorque na casa não tinha paredeNinguém podia fazer pipiPorque penico não tinha aliMas era feita com muito esmerona rua dos bobos numero zero.


Testamento
Você que só ganha pra juntarO que é que há, diz pra mim, o que é que há?Você vai ver um diaEm que fria você vai entrarPor cima uma laje Embaixo a escuridão É fogo, irmão! É fogo, irrnão!FaladoPois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo... E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão, pensando à beça que não levou nada do que juntou: só seu terno de cerimônia. Que fossa, hein, meu chapa, que fossa...CantadoVocê que não pára pra pensarQue o tempo é curto e não pára de passarVocê vai ver um dia, que remorso! Como é bom pararVer um sol se pôrOu ver um sol raiarE desligar, e desligar...

Final de uma vida, continuação de uma carreira

Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes das canções do “Arca de Noé” com Toquinho, Vinícius veio a falecer.
Através de seus sonetos, o poeta conseguia facilmente aprofundar-se em temas complexos e significativos como a morte, o cotidiano e a denúncia social, e principalmente a paixão e o amor, por isso foi carinhosamente chamado de “o poetinha”.

Novas regras da Língua Portuguesa

20/08/2007 - 09h15
O que muda com a reforma da língua portuguesa

da Folha de S.Paulo
As novas regras da língua portuguesa devem começar a ser implementadas em 2008. Mudanças incluem fim do trema e devem mudar entre 0,5% e 2% do vocabulário brasileiro. Veja abaixo quais são as mudanças.
HÍFEN
Não se usará mais:1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"
TREMADeixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados
ACENTO DIFERENCIALNão se usará mais para diferenciar:1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)
ALFABETOPassará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"
ACENTO CIRCUNFLEXONão se usará mais:1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"
ACENTO AGUDONão se usará mais:1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem
GRAFIANo português lusitano:1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"
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O Clube do Imperador

O Clube do Imperador

O diretor do filme é Michael Hoffman, e este é exibido em 2002. Os atores que representam os personagens principais são Kevin Kline, o professor Hundert, e Emile Hirsch, o arrogante aluno Sedgewick Bell.
O filme conta a história do conflito entre um professor de história, apaixonado pela sua profissão, e um arrogante aluno que já foi expulso de vários colégios, por conta de sua indisciplina, filho de um senador milionário, que era um dos maiores mantenedores do colégio, homem que dá mais valor ao seu emprego do que à sua família. Este aluno, mesmo distanciando-se das normas da escola e da classe, desperta no professor um sentimento de afeto e piedade, pois o menino não tinha uma boa relação com o pai, e é isto que Hundert tenta realizar: uma aproximação deste filho com seu pai. O professor acaba, desonestamente, classificando-o no concurso Clube do Imperador, ele chega a derrotar um aluno, porém a decepção desse professor é quando ele descobre que seu aluno “trapaceou”.





Além disso, ele é um dos mais antigos professores do colégio. A maioria dos alunos que lá estudam, possuem uma herança, pois pelo menos alguém de suas famílias já estudou no colégio. E também de alunos que respeitam aos professores e mesmo aos seus colegas.
Esse não é o caso de um dos seus alunos, Sedgewick Bell (Emile Hirsch), que já foi expulso de vários colégios, por conta de sua indisciplina. Filho de um político que dá mais valor ao seu emprego do que à sua família, este filme mostra que quando nós ligamos mais para o nosso orgulho, nosso emprego, e nos esquecemos de nossa família, terminamos transformando nossos filhos e também as pessoas que estão ao nosso redor, em pessoas fracas, covardes e principalmente desprovidas do maior dom que Deus nos deu: o Amor.
O professor sente que pode ajudar este aluno, dando chance a ele de participar do Concurso Clube do Imperador, na qual é promovido para eleger o melhor aluno de História do colégio. São três classificados, ele chega a derrotar um aluno. Porém a decepção desse professor é quando ele descobre que seu aluno filou tudo. O que causa uma grande reviravolta no filme
O filme trata de uma temática importante, além de mostrar de forma dramática o que acontece com uma pessoa que é desprovida de amor e responsabilidade. Mostra também, os valores que devemos seguir e ensinar, mas que geralmente não fazemos.

Meu Tio Iauaretê - Guimarães Rosa

Meu Tio Iauaretê


Rosa? Rosinha amiga dinfância? Ah, sim, Guimarãe Rosa! Cunheço sim... Home intiligente, iscritor fai tempo. Seus livro fala muito de gente como a gente, do povo sertanejo. Diz por aí a fora qui o qui mais ficô marcado nele foi o jeito di iscrevê os livro: uma fala regional, oxê! E linguague du povo! Isso permitiu qui ele criasse muitos vocábulo a parti de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas. É consideradu pelos crítico um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, ao lado de Machado de Assis. Ieh! Eu fartava muita aula por causa da distância da escola, mas essa aula eu tava lá, era aula de uma tar de literatura, foi bão dimais ouvi falá do Guimarãe. Quiria sê igualzim ele.
Tava aqui agora lendo di novo uma história que a professora dessa tar literatura deu pra gente, o nome da história é Meu Tio Iauaretê. Fala di um oncero, mestiço de índia com branco qui conforme se embriagava com aguardente, contava diversas história de onça prum discunhicido viajante, hospedado em seu rancho. O legar é que cumeça cum diálogo que se mantém até o fim apenas com a fala do protagonista/narrador, ele qui é o oncero, um mameluco enviado pros confins do sertão com a incumbência de desonçar a região. O seu interlocutor silencioso parece perdido e bate na tapera habitada pelo bugre a fim de, supostamente, passar a noite e esperar reencontrar os companheiro di viage. Identifica-se ao totem, a onça, e tendo quebrado o tabu, efetuando sozinho o banquete totêmico, em vez de fazê-lo com a tribo, fica em débito com a sua espécie e com a que representa esse totem. Resta expiá o seu pecado se identificando cum totem e exterminando a espécie a que pertencera. Enquantu mantém um resquício di vida humana vive na tapera (que ele chama de “havéra”) onde discorre o seu drama para o visitante no período di uma noite. Se percebe intão que já é muito mais du que o mameluco quase selvage - “eu sou bicho do mato” - pois além de índio e branco entra em sua mestiçagem confessos caracteres du grande felino. Possui nomes tupis postos pela mãe: Bacuriquirepa, Breó, Beró (provavelmente derivado do neologismo tupi peró, pejorativo para português, e nome de branco: Tonico, ou Antonho de Eiesus, posto pelo pai e batizado por missionário. Prá completá a confusão a respeito da identificação do homem-onça, ele decrara em determinado ponto: “[...] tenho nome nenhum, não careço”. Nome próprio é custume di humano, e é só como tar que ele também nomeia as onça qui vai conhecendo e admirando. Passa a compreendê a língua das onça (jaguanhenhém) e mesmo a comunicar-se cum elas e as nomeá com nomes tupi ou inventados que reproduzem possíveis ruídos de onças. Ele, que não sentia farta de mulhé, ama agora a “Maria-Maria”, onça canguçu, mermo nome da sua mãe, a quem chama também Mar’Iara Maria, o que parece uma referência à divinização da mãe cunfundida com a onça amada, se considerarmo que Iara é o tratamento mais respeitoso pra mulhé e/ou home, e que também nomeia um ser mitológico poderoso: a mãe d’água, espéci di sereia tupi.
Esse contu tem um cruzamentu culturá, ondi si mistura o índio, o branco, o caboclo, o negro e até mesmo um animar, a onça. A língua usada nu contu é ainda portuguesa, enriquecida por elementos de origem indígena e pelo linguajar popular. Ieh, num to mole não! Num disse que quero ser iguarzim Guimarãe, intão, to cum o conto du oncero aqui na minha mão né, lendo pela nona veiz, e olha, parece qui a genti transforma, entra nu textu, faz uma metamorfose, iguá os bicho, oxe! Tem, que transformá a língua pra podê intendê o textu também. Ih, será que cês tão mi entendendu? Xi, vô visitá a iscola, vê se a professora de literatura trabaia lá ainda, às veiz ela pode corrigir esse texto pra mim...

Orgulho - Rubem Fonseca

Rubem Fonseca em seu livro “O buraco na parede”, vem a narrar no conto “Orgulho”, a situação de um homem que, afogado, e internado em um hospital, estando para morrer, e apesar de ter ouvido falar da agonia de quem, antes da morte, tem lembranças de acontecimentos de sua vida, nunca antes acreditou neste fato, mas por incidente, passava por esta situação e à sua mente ocorriam lembranças passadas e atuais que se misturavam em sua memória. Até que um fato ocorreu: o homem começou a bater em uma mesa de metal, refletindo e gritando que perdoava a todos. Então, o médico “desesperado e confuso”, tirou os sapatos do homem e este levantou sua cabeça e “viu na meia do pé direito um furo que deixava aparecer um pedaço do dedo grande, e lembrou-se de como sua mãe era orgulhosa e de que ele também era muito orgulhoso”, e em contraste raciocinava que este orgulho sempre foi sua ruína e sua salvação. Posteriormente, usando este mesmo sentimento, não quer morrer com um buraco na meia e deixar aquela imagem final para o mundo. Contrai-se e se esforça brutalmente, consegue “fazer o ar penetrar pela sua laringe com um ruído estarrecedor... ele escapou da Morte” e não pensando em mais nada, sentou-se na cama, o médico limpou o suor do seu rosto e ele calçou os sapatos.
O título do conto retrata muito bem seu assunto: o orgulho. Um homem à beira da morte, onde se pensa que o indivíduo vá refletir sobre sua vida até aquele momento, se arrepender de todo o mal que fez e humildemente pedir “arrego”, este homem até reflete sobre sua jornada, pede perdão, mas em um ato de orgulho, em perceber que sua meia está furada e temer que isso deixará uma má imagem de si, resiste e escapa da Morte. A palavra morte vem a ser ressaltada iniciada com letra maiúscula, possivelmente, retratando o alívio de ter escapado da morte física e moral, pelo fato de não ter passado pela vergonha da meia furada. O homem lembra-se também de que sempre foi orgulhoso como sua mãe, no que isto o prejudicou, mas também o ajudou (novamente o orgulho).
Ao final do conto, têm-se um fato acabado e ao mesmo tempo inacabado quando escreve que “Ele se levantou da cama de metal e calçou os sapatos.” Calçou e pronto? Ou, calçou os sapatos e... Morreu? Arrependeu-se do seu orgulho? Levou uma vida “normal” depois do ocorrido? Fica para o leitor refletir.
A narrativa é escrita em terceira pessoa, constituída por um único parágrafo, conciso e sem desdobramentos, onde a linguagem é leve e sem a presença de palavras brutais, saindo um pouco da rotina de narrar de Rubem Fonseca.

O relógio de ouro - Machado de Assis

“O Relógio de Ouro”

A história se trata do enigma do aparecimento de um relógio no quarto de Clarinha, esposa de Luís Negreiros. Este lhe pergunta sobre o surgimento daquele relógio em seu quarto. Clarinha nega saber, o que faz o marido ficar desconfiado e irritado, por não ter conhecimento da origem daquele objeto e por perceber que a única que poderia lhe dizer a verdade seria sua esposa. Negreiros aparenta desconfiar de uma traição de Clarinha. Há, também, certa preocupação por parte de Clarinha quanto ao relógio: “...os olhos apenas, porque o pensamento, não tenho certeza, se estava no livro ou em outra parte.”
Acontece a visita do pai de Clarinha à casa de sua filha e genro, o mesmo desconfia de algo diferente estar acontecendo entre os dois: “Estavam de arrufos (mau humor passageiro)... é o que há de ser” disse Sr. Meireles.
Era o aniversário de Luís Negreiros. Por um momento ele pensou que o relógio poderia ser um presente de aniversário da esposa, mas não era. Negreiros fica ainda mais nervoso e intrigado.
O marido, já enraivada disse: “Responde, demônio, ou morre!” Então, a esposa lhe mostra uma carta, entregue pelo portador da casa e disse que o mesmo foi até o escritório de Luís Negreiros, mas não o havia encontrado lá. Luís Negreiros lê a carta que dizia: “Meu nhonhô. Sei que amanhã fazes anos: mando-te esta lembrança. Tua Iaiá”.
Machado de Assis usa de ironia ao iniciar este conto onde escreve: “Agora contarei a história do relógio de ouro”, a história, na verdade, não é sobre o relógio de ouro e sim sobre um conflito no relacionamento de um casal. E ainda ousa finalizar o conto escrevendo: “Assim acabou a história do relógio de ouro”,o conto não tem um final, o jogo de culpa acontece a todo o momento, não se sabe ao certo quem traiu ou mesmo se houve de fato uma traição. Machado brinca com isto.
O conto é narrado na terceira pessoa do singular. Percebe-se a voz do narrador em diversas partes do texto, que narra e ao mesmo tempo esclarece fatos ao leitor: “Por este motivo, e outros que são óbvios, compreenderá o leitor...”; identidade entre personagem e narrador. A todo tempo, o narrador guia o leitor.
A narrativa deste conto é mais curta e mais concreta, se comparada à fase anterior de Machado de Assis, quando escreveu “Miss Dólar”, onde a narrativa é longa e imprecisa.
Os nomes dos personagens são muito sugestivos. Luis Negreiros, nome e sobrenome, possivelmente alguém importante, de classe superior. Clarinha, diminutivo, nome de pessoa simples, de classe inferior. Senhor Meireles, o narrador enfatiza o senhor, chefe de família, provavelmente de classe inferior também, por este personagem é introduzido um tom de humor. O nome de Clarinha e de Negreiros também sugerem aspectos do conto onde hora os fatos são claros (nome Clarinha) e hora são ocultos, escuros, negros (nome Negreiros). No campo da literatura, o nome próprio tem um papel importante a considerar. O artista nomeia os personagens da maneira como o faz, mais, ou menos, intencional. Em Machado de Assis, o antropônimo atribuído a um personagem desempenha uma função específica, não devendo ser visto como mero instrumento de identificação do ser.
Machado de Assis usa o relógio, um simples objeto, para investigar o comportamento social. Feridas da sociedade como o casamento em busca de benefícios para o pai (apesar de no caso desta história, a moça ter se agradado do rapaz), diferença de classe social e possível traição, implícita, são trabalhados neste conto.
Utiliza-se de linguagem pura, adequada entre o instrumento verbal e o pensamento do escritor. É marcadamente acadêmica: clássica, bem cuidada, regida pelas normas de correção gramatical. Entretanto, em alguns pontos, ele registra aspectos típicos da língua da personagem, como nesta fala de Sr. Meireles: “... ó seu malandrim!”.
Percebe-se também nesta obra a presença do fato real e do fato imaginário. Há elementos que existem na vida real e também existem na literatura, porém na literatura esta articulação é organizada. Mesmo não podendo ter totalmente fundamento, observa-se que um serve de contexto para o outro. Na obra, o fictício abre o espaço para o imaginário do próprio personagem que abre ao leitor um novo imaginário a partir do imaginário do personagem, que não deixa de ser uma ficção. Daí vem as denúncias implícitas de Machado sobre a realidade da sociedade de sua época, no caso deste conto o adultério.
Por fim, pode-se dizer que O Relógio de Ouro não tem um final definido. Ao leitor resta a possibilidade de conviver com o não resolvido, com o fato de não poder conhecer a totalidade de algum personagem.
Diante de características de Machado de Assis observadas neste conto, não se pode deixar de falar da “maturidade” dos textos de Machado na época em que este conto foi escrito. Foi em 1873, em Histórias da Meia Noite, que o conto O Relógio de Ouro foi publicado. Neste período, ainda se escrevia com traços do Romantismo, mas no caso deste conto, as características já eram realistas. Machado de Assis foi um instrumento na transição do Romantismo para o Realismo. De acordo com Antônio Cândido “O realismo, aliás, é de todo o romance, em todas as suas fases, pois o romance constitui-se sobretudo na medida em que o aceitou, como alimento da imaginação criadora, o cotidiano e a descrição objetiva da vida social.” Todos os romances tem características do Realismo, pois a partir da realidade, do cotidiano, vem a ficção. Foi neste modo de pensar que Machado transitou para o Realismo. Machado de Assis contista está no mesmo nível do romancista, inclusive a evolução é a mesma: de romântico ele passará a realista.
A partir daí o escritor preocupa-se muito mais com a análise das personagens do que com a ação. Por isso, em suas narrativas, pouca coisa "acontece": há poucos fatos em suas histórias, e todos são ligados entre si por reflexões profundas, características do Realismo.
A visão de mundo machadiana tem as seguintes características: humor, este tem duas funções: ora visa criticar o ser humano e suas fraquezas, através da ironia, ora demonstra compaixão pelo homem, fazendo o leitor refletir sobre a condição humana; pessimismo, não o angustiado nem desesperador. Machado de Assis apresenta ainda, segundo Antônio Cândido aspectos bifrontes: “Ironista ameno e cronista do absurdo”. São dois aspectos presentes em um mesmo escritor que aparentemente se confrontariam, mas eles se integram um ao outro se tornando um estilo predominante nas obras de Machado. O tempo todo faz ironias mas não vulgarmente e sim com amenidade, leveza. Desconsolado quer dizer desacreditado; cronista, aquele que escreve fatos do dia a dia, da atualidade, coisas pertinentes à época; absurdo, algo fora da normalidade, do comum. Suas crônicas são atuais até hoje, pois remetem a reflexões profundas de fatos cotidianos, com base naquilo que observava com ironia e quase sempre a mesma traz, implícita ou explicitamente, uma advertência.
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Referência Bibliográfica

·
www.cce.ufsc.br/literatura/relogio.html
· ASSIS, Machado. Clássicos da nossa língua. Companhia Editora Nacional. 2003
·
www.suapesquisa.com/realismo
· www.wikipedia.org

Lição de persistência - por Viviane dos Santos Ventura

Lição de persistência

Durante muitos anos, ele chegava velozmente. Tão veloz que, por várias vezes, parecia que ia bater em alguma das paredes da cozinha.
Roia a sacola de pães, deslizava na manteiga que restara na faca, lambia os pingos de leite derramados na mesa...
_ Saia daí, seu rato nojento! Xô, xô, xô! Saia!
Toda noite Zerafina perdia o sono, por conta da bagunça que Risso fazia. E olha que o trabalho não era só tentar dar vassouradas no rato. A pobre senhora passava o restante da noite em claro, pensando em armadilhas para acabar com aquele roedor. Já tentara ratoeiras de diversos modelos e até venenos.
Mas uma noite foi diferente. Zerafina quis mudar o piso de sua casa, ele estava feio e era daqueles antiderrapante, que acumulam gordura nas frechinhas. Colocou um piso bem moderno, lisinho, dava até medo de escorregar. Aí, anoiteceu. Risso mirou a frecha da porta, seria a hora de entrar e começar a comilança. Dona Zeverina estava à sua espera, agora com uma armadilha nova: um spray para matar moscas. Sua idéia parecia ser brilhante. Iria cegar o animal e depois tacar-lhe a vassoura. Tudo foi bem planejado.
O rato correu disparado em direção a uma azeitona que estava no chão. Seria uma cilada? Teria caído sem que ninguém a percebesse? As perguntas passaram por sua cabeça, mas não poderia perder tempo.
Plaft! A pancada foi mesmo forte. E o rato não resistiu.
_ Oh, não! Ele morreu.
Zeverina lamentava por seu plano novamente não ter dado certo.
_ Vou tentar novamente. Arrumarei outro rato e darei um jeito de colocar um piso igual ao antigo aqui na cozinha.

Alfabetização aos seis anos de idade

Viviane dos Santos Ventura











Alfabetização aos seis anos de idade: Modernização qualitativa ou quantitativa? Métodos de ensino tradicionais ou atuais para a nova nomenclatura ?











Trabalho acadêmico apresentado ao curso de Licenciatura em Letras na Universidade Estácio de Sá, como exigência da disciplina Produção Avançada de Trabalho Acadêmico sob a orientação da professora Valéria Muniz.









A Lei Federal nº11.114, de maio de 2005, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica para aumentar a escolaridade mínima de oito para nove anos no Ensino Fundamental, o que confere o prazo de cinco anos para que toda a rede pública incorpore a população de crianças da referida faixa etária. Antes da nova lei, a criança poderia ser matriculada no ensino fundamental a partir dos sete anos. Desde então, a antiga Alfabetização passa a ser chamada de Primeiro Ano, deixando de ser uma fase isolada, dependendo do ano de escolaridade seguinte. O Primeiro e Segundo anos, constituem um bloco único e de acordo com elaboradores desta nova nomenclatura, os objetivos que o aluno não conseguir atingir no primeiro ano, serão alcançados no segundo ano.
Esta mudança não foi de um momento para o outro. Também não foi pela vontade de um único legislador ou de um determinado governo que as mudanças aconteceram. Não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo, principalmente nos países desenvolvidos, a necessidade dessa ampliação foi gerada ao longo de um processo histórico, do qual fizeram parte inúmeros atores sociais. No Brasil, desde o final do século passado, essa questão já fazia parte das discussões de inúmeras entidades de professores, das pautas dos movimentos sociais por melhoria na educação e das discussões em torno dos planos de educação. Em alguns municípios brasileiros, já há mais de dez anos, as crianças de seis anos são matriculadas no ensino fundamental, seja ampliando essa etapa da educação básica para nove anos, seja mantendo os oito anos de escolaridade obrigatória. Nas cidades localizadas em regiões que fazem fronteira com o Brasil, onde é muito comum a transferência de crianças de um município para outro por causa do trabalho dos pais, essa questão trazia problemas, para crianças, famílias e escolas.
A justificativa apresentada pelo governo federal para a entrada de crianças de seis anos no ensino fundamental se dá, em parte, pela constatação de que um número significativo de crianças com essa idade, filhas de famílias das classes média e alta, já se encontram inseridas no mundo escolar, seja na pré-escola ou no ensino fundamental, o que difere da realidade da maior parte das crianças brasileiras dessa mesma faixa etária. Sendo assim, acredita-se que a reorganização da LDB poderia contribuir para que este último grupo tivesse a mesma oportunidade. A referida lei alerta para o fato de que a inclusão de crianças de seis anos de idade não deverá significar a antecipação dos conteúdos e atividades que tradicionalmente foram compreendidos como adequados à primeira série. Destaca, portanto, a necessidade de se construir uma nova estrutura e organização dos conteúdos em um ensino fundamental, agora de nove anos.
Pode-se dizer que a entrada das crianças de seis anos de idade no Ensino Fundamental, através da ampliação da escolaridade obrigatória, a princípio, pode ser considerada uma conquista para as famílias das classes populares, pois estas, muitas vezes, ao matricularem seus filhos aos sete anos nas escolas, não obtinham resultados satisfatórios em relação ao desempenho dos mesmos, ao contrário das crianças vindas das famílias de classe média e alta que freqüentam instituições escolares privadas, desde os primeiros anos de vida, as crianças de contextos familiares de classes populares, na maioria das vezes, tinham sua primeira experiência escolar somente aos sete anos de idade. Mas é necessário que se reflita se de fato esta ampliação está sendo feita para uma melhoria na qualidade do ensino nas séries iniciais ou apenas para que aparente uma mudança a mais na educação, como, por exemplo no projeto “Brasil Alfabetizado”, onde em diversos lugares do Brasil, foram implantados classes de aceleração, tentando alfabetizar, e fazer concluir a primeira etapa do Ensino Fundamental, alunos jovens e adultos em dez meses, quando na realidade se formam indivíduos semi-analfabetos, incapazes de compreenderem o que lêem.
A maior aprendizagem, como diz o próprio documento do MEC, “...não depende do aumento do tempo de permanência na escola, mas sim do emprego mais eficaz do tempo. No entanto, a associação de ambos deve contribuir significativamente para que os educandos aprendam mais” (2005:20). Ao citarem a forma de utilização do tempo, as mesmas orientações da lei desconstroem seus próprios argumentos, pois se a idade não fosse definidora, a utilização desse tempo não poderia estar tão enfatizada. Espera-se que a criança permaneça na escola mais tempo e que este represente maior utilidade e qualidade na aprendizagem.
Algumas escolas particulares fazem isso desde antes da promulgação da lei, por pensarem que um ano a mais de escolaridade pode fazer a diferença na vida das crianças. Mas alfabetizar em uma classe com até dezoito ou vinte alunos já é um esforço grande, pois cada aluno é individual e tem seu próprio ritmo, o que se dizer em uma classe com trinta e seis a quarenta alunos?
A questão é que não há estrutura de turmas adequadas no ensino público. No ensino particular, as salas são compostas de poucos alunos e o trabalho pode ser muito diferente de uma turma de escola pública. Pensar e fazer vigorar uma lei pode não ser simples, mas há de se pensar que pô-la em prática é ainda mais complicado. Também se faz necessário pensar em salas de aulas com quantitativo de alunos adequados e professores dispostos a inovarem suas formas de ensino, sendo incentivados e capacitados através de cursos de extensão.
A revista Nova Escola de dezembro de 2007 vem a defender esta lei e interroga o seguinte:

Com raríssimas exceções, os filhos da classe média e alta se alfabetizam aos seis anos (e ninguém acha que eles deixam de ser crianças por isso). Por que, então, privar os da escola pública desse direito? (29).

Mas o que de fato o governo quer com isso? Qualidade no ensino, para que os filhos de classe baixa tenham o mesmo ensino dos de classe média e alta, ou apenas aparentar que o ensino público está melhorando? Na verdade, parece estar piorando cada vez mais, pois o aluno é aprovado automaticamente no primeiro ano, e as classes de segundo ano estão lotadas de alunos “repetentes”.
Ainda na revista Nova Escola, encontra-se a seguinte frase:

Ao garantir, por lei, que todas as crianças freqüentem a escola a partir dos seis anos de idade, o Brasil avança no sentido de oferecer um futuro melhor para as novas gerações. (2007:29).

A proposta em si não é má, porém é preciso reconsiderar essa etapa da Educação Básica e não querer que essas crianças de seis anos façam exatamente as mesmas coisas que sempre foram exigidas das de sete anos. A antecipação da entrada das crianças na escola pública exige a revisão do projeto pedagógico para o ensino nas séries iniciais, o que coloca desafios aos profissionais da educação que atuam nas escolas, particularmente no que diz respeito aos processos de alfabetização e letramento. Em Letramento: Um Tema em Três Gêneros, a escritora Magda Soares cita:

... a hipótese é que aprender a ler e a escrever e, além disso, fazer uso da leitura e da escrita transformam o indivíduo a um outro estado ou condição sob vários aspectos: social, cultural, cognitivo, lingüístico... letramento é o resultado da ação de letrar-se... tornar-se letrado. (2003:37 e 39)

Segundo Magda, há que se pensar em metodologias de ensino que articulem a alfabetização e o letramento dos alunos. Isso porque os procedimentos metodológicos precisam assegurar resultados positivos para a aprendizagem das crianças, sempre considerando as especificidades do desenvolvimento infantil nessa faixa etária, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita; enfim, envolve uma série de técnicas. Ao se aprender uma coisa, passa-se a aprender a outra. São, na verdade, processos indissociáveis, mas diferentes, em termos de processos cognitivos e de produtos, como também são diferentes os processos da alfabetização e do letramento. Isso significa que a alfabetização, aprendizagem da técnica, domínio do código convencional da leitura e da escrita e das relações fonema/grafema, do uso dos instrumentos com os quais se escreve, não é pré-requisito para o letramento. Não é preciso primeiro aprender a técnica para depois aprender a usá-la. E isso se fez durante muito tempo na escola: "primeiro você aprende a ler e a escrever, depois você vai ler aqueles livrinhos lá". Esse é um engano sério, porque as duas aprendizagens se fazem ao mesmo tempo, uma não é pré-requisito da outra. Mas, por outro lado, se a alfabetização é uma parte constituinte da prática da leitura e da escrita, ela tem uma especificidade, que não pode ser desprezada. A alfabetização é algo que deveria ser ensinado de forma sistemática, ela não deve ficar diluída no processo de letramento. Essa é uma das principais causas do que se vê acontecer hoje: a precariedade do domínio da leitura e da escrita pelos alunos. Não se podem deixar esses milhões de alunos, crianças e jovens, saírem da escola semi-alfabetizados, quando não saem analfabetos. Ninguém aprende a ler e a escrever se não aprender relações entre fonemas e grafemas. Isso é uma parte específica do processo de aprender a ler e a escrever. Nas concepções anteriores, as alfabetizadoras tinham um método, fosse esse ou aquele, que vinha concretizado na chamada cartilha, acompanhado de um manual do professor dizendo detalhadamente o que ela deveria fazer. Não tinham uma teoria, porque aquele método era tudo. A verdade era exclusivamente o que dizia a cartilha. Havia um método, mas não uma teoria. Hoje acontece o contrário: todos têm uma bela teoria construtivista da alfabetização, mas não têm método. Se antigamente havia método sem teoria, hoje se tem uma teoria sem método. E é preciso ter as duas coisas: um método fundamentado numa teoria e uma teoria que produza um método.Educação é, por definição, um processo dirigido a objetivos. Só se educa os outros se quiser que eles fiquem diferentes, pois educar é um processo de transformação das pessoas. Se existem objetivos, tem-se que caminhar para eles e, para isso, saber qual é o melhor caminho. Não basta que a criança esteja convivendo com muito material escrito, é preciso orientá-la sistemática e progressivamente para que possa se apropriar do sistema de escrita. Isso é feito junto com o letramento, com textos reais, com livros etc. Assim é que se vai, a partir desse material e sobre ele, desenvolver um processo sistemático de aprendizagem da leitura e da escrita. Um sistema convencional tem de ser aprendido de forma sistemática. Desde que a criança tenha descoberto que o sistema é alfabético, está apta a aprender esse sistema. E acaba aprendendo, porque, felizmente, criança é bastante esperta.
O método com que se alfabetiza conta muito, pois a criança, quanto menos madura na idade, mais quer brincar. E na escola, o ensino deve ser dado de forma atrativa, através de jogos, músicas e dinâmicas.
A passagem da Educação Infantil para o ensino Fundamental sempre foi traumática. Na pré-escola, há cantos de leitura, desenho, teatro, e no primeiro ano todos se sentam em carteiras enfileiradas, e o ensino é dado de modo decodificado, isto é, relaciona-se muito pouco com o que se passa na realidade de mundo do educando.
O processo de alfabetização é considerado muito importante na aprendizagem do aluno e deve estar próximo de sua realidade. Como lhe ensinar a composição de algumas palavras, transformando-a em frase, usando alguns termos que não se usam mais na atualidade como: “A cuia do Cacá caiu”? Não se chama mais uns recipientes de cerâmica pelo nome de cuia, o chamam de pote e nem é mais tão usado como antigamente.
O ato de ler e escrever não significa apenas juntar letras, palavras, codificando e decodificando palavras, mas propiciar ao aluno a oportunidade de ampliar e aprimorar sua competência lingüística e comunicativa para se adaptar à sociedade. É também essencial que o aluno entre em contato com a leitura desde cedo. Lê-se para ampliar os conhecimentos, para obter informações, lê-se para chegar ao "prazer do texto". Prazer que resulta um trabalho intelectual, em diferentes níveis, que se misturam ao leitor e sua experiência de mundo. O professor que trabalha com leitura e escrita tem que ser, antes de mais nada, um bom leitor e deve gostar de escrever. É importante também que as crianças contem histórias aos colegas e ao professor. No momento em que a criança entra em contato com a escrita, através da interação com as pessoas que lêem e escrevem, começa a elaborar noções básicas da função social da escrita. Assim, é necessário entender a alfabetização também como um processo de apropriação do conhecimento da língua escrita, em que o aluno, gradativamente, irá ampliar e rever suas formas de ler o mundo e representá-lo.
Com o domínio de um sistema de código, a criança ampliará sua possibilidade de cognição. A alfabetização, anteriormente tomada pela teoria associacionista como mera atividade mecânica, individualista e desvinculada de outros conhecimentos, priorizava apenas a percepção auditiva e visual. Hoje, assumindo um sentido mais amplo, alfabetizar é interagir com o mundo por intermédio da língua escrita. Diante disso, deve-se trabalhar na escola diferentes tipos de textos, pois cada um tem uma função específica e é escrito de forma diferenciada. É preciso deixar os alunos escreverem textos livres, espontâneos, contarem histórias como quiserem. É neste tipo de material que se podem encontrar os elementos que mostram as reais dificuldades e facilidades dos alunos no aprendizado da escrita. Portanto de tudo o que a escola pode oferecer de bom aos alunos é a leitura, sem dúvida, a melhor herança da educação. Deveria se dar ênfase absoluta à leitura no ensino de português, desde a alfabetização. Pois quanto mais oportunidades o educando tiver de ler e discutir, maior será o seu referencial para realizar uma produção escrita e oral. O trabalho com o texto é parceiro de todo trabalho com a alfabetização e a língua. Desde os textos orais que a criança produz e que o professor transcreve para mostrar até os textos pensados e escritos pelas crianças. O professor que vai ensinar a ler e escrever estuda tudo nessas escolas, exceto o português que devera ensinar. É preciso dizer que não basta "reformar" os professores de alfabetização, é preciso, antes de tudo, reformar os órgãos encarregados da Educação no País.
Em Reflexões Sobre Alfabetização, de Emília Ferreira, diz que:

É preciso mudar os pontos por onde nós fizemos passar o eixo central das nossas discussões. Temos uma linguagem empobrecida da língua escrita; é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem. Temos uma linguagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador para emitir sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu. (2001:40-41)

É essencial que se saiba valorizar a cultura popular em que o aluno está inserido, partindo dela e procurando aprofundar seus conhecimentos para que o próprio aluno participe do processo da sua socialização. A preocupação com o ser humano-aluno precisa ser analisada para detectar os problemas dos alunos como falta de atenção, alimentação e quais recursos devem ser revistos na prática pedagógica. As escolas precisam incentivar seus alunos a utilizar seus conhecimentos para resolverem problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade. Assim sendo, conhecer a vida pessoal do aluno, a sua história de vida pode ser uma grande opção para promover uma proximidade entre aluno, escola e família. Resgatar a auto-estima do aluno através do seu estado emocional poderá trazê-lo a um mundo mais digno em uma vivência concretizada pelo sucesso. O aluno deve, antes de tudo, compreender o seu mundo, transpor as barreiras da falta de estimulação e buscar os conhecimentos. É importante querer descobrir, saber argumentar com o aluno para encontrar nele, um aliado para projetos de desenvolvimento escolar. O educando, deve apropriar-se do conhecimento, passando a ser sujeito de sua história.
Na escola, trabalha-se o universo vocabular do aluno e, após essa compreensão, amplia-se seus conhecimentos com informações necessárias à sua vida, já que na sociedade capitalista sobrevive-se de empregos que exigem concursos nos quais são cobrados os conhecimentos sistematizados, assim, esse educando poderá lutar por melhores condições de vida, já que lhe foram garantidas as informações necessárias e as habilidades requeridas para sua sobrevivência. O aluno deixou de ser objeto, depósito de informações e passou a analisar sua realidade, seus conhecimentos e discutir possibilidades de mudança. O educador Paulo Freire, em A Importância do Ato de Ler, diz que:

...a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo. E aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. (2003: 08)

O acréscimo de mais um ano ao Ensino Fundamental traz à tona preocupações de grande importância, relacionadas ao cotidiano escolar, que, muitas vezes, passam despercebidas ou vão sendo deixadas em segundo plano, devido às emergências que esse contexto, constantemente, exige.
O Ensino Fundamental de nove anos, paralelamente, com o Ensino Fundamental de oito anos, exige que se repense a estrutura da escola: os tempos e espaços, questões curriculares - gerais e específicas presentes na proposta educativa, a formação de todos os envolvidos, quer de professores regentes ou responsáveis pelos setores, da equipe diretiva, de funcionários e de pais, além de toda atenção merecida às crianças e a garantia da aprendizagem.
A implantação do novo Ensino Fundamental requer estudo e dedicação de professores e de pais ou responsáveis, em especial, do professor de primeiro ano no que diz respeito à alfabetização.
A alfabetização não pode ser pensada em sentido isolado, com tempo marcado para sua efetivação, muito menos ser compreendida como se devesse ocorrer de forma parcelada. Também, não cabe mais ser concebida, apenas, como a aquisição da leitura e da escrita mecânica e treinável, mas necessita ser reconhecida como um processo de aprendizagem significativa que ocorre de forma compreensiva, respeitando as experiências prévias da criança, que entre avanços e retrocessos sinalizam para novos rumos a serem percorridos pelos sujeitos do processo. Tais rumos, para terem sentido, precisam apostar na formação do vínculo professor – aluno, que vai sendo fortalecido, através do exercício do diálogo, necessariamente, presente nas interações e experienciações efetuadas ao longo das séries com vistas a se obter o sucesso almejado.
Conceber alfabetização como um processo que deve acontecer de forma sistematizada no início do Ensino Fundamental, não isenta o professor da Educação Infantil de possibilitar à criança, através de jogos e brincadeiras apropriadas ao interesse e necessidades dela, considerando a faixa etária, a vivência concreta de um ambiente alfabetizador, pois brincando se aprende. Ela pode, ludicamente, conviver com o mundo letrado presente dos livros e revistas infantis, nos jornais e encartes variados, nos rótulos de produtos de limpeza e alimentícios, nas bulas de remédios ou mesmo, no próprio ambiente de sala de aula, repleta de painéis e cartazes que apresentam imagens e nomes, letras, números, etc., combinado a contribuição da professora com a produção da criança. Bem como, reconhecendo outras possibilidades lúdicas que se apresentam a partir das tecnologias interativas e das mídias presentes nos diferentes espaços de vida em sociedade, mas nem sempre disponível à criança da escola pública.
A alfabetização não exclui a responsabilidade do professor do primeiro ano de realizar um trabalho pedagógico pautado nas brincadeiras, no lúdico, mas efetivamente comprometido com a sistematização desta alfabetização que inicia cada criança na decodificação dos códigos lingüísticos que resultam, na construção da escrita e na inserção no mundo da leitura. Afinal, as turmas de alfabetização, ao contrário do que se costuma diagnosticar, não se configuram homogêneas, mas revelam diferentes singularidades, cada qual formando uma combinação diferenciada de características, desenvolvimentos e níveis de aprendizagem (pré-silábicas, silábicas ou alfabéticas), enfim, configurando um cenário heterogêneo, inigualável em beleza, possibilidades e descobertas.
Neste cenário, a continuidade desse processo, de modo a obter um domínio maior da compreensão e da interpretação do que lê e escreve se estende, no mínimo, ao longo dos anos iniciais, tendo o compromisso com a manutenção da vivência da infância, garantindo o interesse, o entusiasmo e a curiosidade da criança, realizando um trabalho lúdico, pedagógico, encantador e instigante, na construção de conhecimentos e de novas aprendizagens individuais e socializadas.
Efetivar o Ensino Fundamental de nove anos requer criar uma escola compartilhada, em que, para além da Educação Infantil e indo até o Ensino Médio, o Ensino Fundamental, do primeiro ao nono ano, forme um bloco sólido e comprometido com a qualificação da aprendizagem do aluno.
Nesta perspectiva, os professores dos diferentes níveis e modalidades necessitam pensar em novas estratégias, criando dinâmicas diferenciadas em que tanto eles quanto as crianças e jovens possam propor atividades, desenvolver projetos de seu interesse, participar do planejamento.
É igualmente importante para o professor, criar e compartilhar espaços escolares e comunitários em que, junto com o aluno, descubra limites e possibilidades que contribuam para o planejado, a organização e a efetivação do trabalho pedagógico, em que, cada um assumindo o que lhe cabe e contribuindo com o que é viável, invista em seus alunos, futuros cidadãos.























REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRASIL. Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Departamento de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2006. (Disponível no site: www.portal.mec.gov.br)

CIVITA,Victor. “Na escola aos seis anos.” In: Revista Nova Escola. São Paulo, Editora Abril, ano XXII, nº208, 28-35, Dez.2007.

FERREIRO, Emília. Reflexões Sobre Alfabetização. 24ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: Em Três Artigos que se completam. 45ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.

SOARES, Magda. Letramento: Um Tema em Três Artigos. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.