sábado, 13 de setembro de 2008

Orgulho - Rubem Fonseca

Rubem Fonseca em seu livro “O buraco na parede”, vem a narrar no conto “Orgulho”, a situação de um homem que, afogado, e internado em um hospital, estando para morrer, e apesar de ter ouvido falar da agonia de quem, antes da morte, tem lembranças de acontecimentos de sua vida, nunca antes acreditou neste fato, mas por incidente, passava por esta situação e à sua mente ocorriam lembranças passadas e atuais que se misturavam em sua memória. Até que um fato ocorreu: o homem começou a bater em uma mesa de metal, refletindo e gritando que perdoava a todos. Então, o médico “desesperado e confuso”, tirou os sapatos do homem e este levantou sua cabeça e “viu na meia do pé direito um furo que deixava aparecer um pedaço do dedo grande, e lembrou-se de como sua mãe era orgulhosa e de que ele também era muito orgulhoso”, e em contraste raciocinava que este orgulho sempre foi sua ruína e sua salvação. Posteriormente, usando este mesmo sentimento, não quer morrer com um buraco na meia e deixar aquela imagem final para o mundo. Contrai-se e se esforça brutalmente, consegue “fazer o ar penetrar pela sua laringe com um ruído estarrecedor... ele escapou da Morte” e não pensando em mais nada, sentou-se na cama, o médico limpou o suor do seu rosto e ele calçou os sapatos.
O título do conto retrata muito bem seu assunto: o orgulho. Um homem à beira da morte, onde se pensa que o indivíduo vá refletir sobre sua vida até aquele momento, se arrepender de todo o mal que fez e humildemente pedir “arrego”, este homem até reflete sobre sua jornada, pede perdão, mas em um ato de orgulho, em perceber que sua meia está furada e temer que isso deixará uma má imagem de si, resiste e escapa da Morte. A palavra morte vem a ser ressaltada iniciada com letra maiúscula, possivelmente, retratando o alívio de ter escapado da morte física e moral, pelo fato de não ter passado pela vergonha da meia furada. O homem lembra-se também de que sempre foi orgulhoso como sua mãe, no que isto o prejudicou, mas também o ajudou (novamente o orgulho).
Ao final do conto, têm-se um fato acabado e ao mesmo tempo inacabado quando escreve que “Ele se levantou da cama de metal e calçou os sapatos.” Calçou e pronto? Ou, calçou os sapatos e... Morreu? Arrependeu-se do seu orgulho? Levou uma vida “normal” depois do ocorrido? Fica para o leitor refletir.
A narrativa é escrita em terceira pessoa, constituída por um único parágrafo, conciso e sem desdobramentos, onde a linguagem é leve e sem a presença de palavras brutais, saindo um pouco da rotina de narrar de Rubem Fonseca.

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