sábado, 13 de setembro de 2008

Vinícius de Moraes

Vinícius da Moraes

Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913 na Gávea, hoje Jardim Botânico.
Sua infância já revelava traços do movimento artístico (Arte Moderna que ainda estava longe de acontecer).
Em meio à educação rígida, o descobrimento da poesia como a possibilidade de transformação da vida.
No ano de 1933, Vinícius se inicia nas rodas boêmias e literárias. Publica neste mesmo ano sua primeira coletânea de poemas “O Caminho para a Distância”.

Vinícius e sua época
Primeira Fase (1933-1943)

Abrange sua estréia em 1933 até 1943.
Cinco livros da 1ª fase: “O Caminho para a Distância”, “Forma e Exegese”, “Ariana, a mulher”, “Novos Poemas” e “Cinco Elegias”.
Influência do Neo-Simbolismo e da renovação católica (poemas com tom bíblico).
Deslocamento da obra para um sensualismo erótico: prazer da carne X formação religiosa.

O Poeta
A vida do poeta tem um ritmo diferenteÉ um contínuo de dor angustiante.O poeta é o destinado do sofrimentoDo sofrimento que lhe clareia a visão de belezaE a sua alma é uma parcela do infinito distanteO infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.
Ele é o etemo errante dos caminhosQue vai, pisando a terra e olhando o céuPreso pelos extremos intangíveisClareando como um raio de sol a paisagem da vida.O poeta tem o coração claro das avesE a sensibilidade das crianças.O poeta chora.

Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristesOlhando o espaço imenso da sua alma.O poeta sorri.Sorri à vida e à beleza e à amizadeSorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.O poeta é bom.Ele ama as mulheres castas e as mulheres impurasSua alma as compreende na luz e na lamaEle é cheio de amor para as coisas da vidaE é cheio de respeito para as coisas da morte.O poeta não teme a morte.Seu espírito penetra a sua visão silenciosaE a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.A sua poesia é a razão da sua existênciaEla o faz puro e grande e nobreE o consola da dor e o consola da angústia.
Influência da “Política dos Governadores”:

As dificuldades da 1ª Guerra Mundial;
Movimentos rebeldes;
A queda da Bolsa de Nova Iorque;
Os descontentamentos dos estados menores;
A Semana de Arte Moderna.

Segunda Fase (a partir de 1943)

Ligação de Vinícius de Moraes à reação contra o movimento modernista de São Paulo.
Início da ditadura em 1937: Vinícius conheceu seus primeiros êxitos literários.

A Poesia

A Segunda Fase compreende os livros “Poemas, sonetos, e baladas”, “Ontologia Poética”, “Orfeu da Conceição”, “Livro de Sonetos”, “Novos Poemas II” e “Para viver um grande amor”.
Ao final da década de 50, Vinícius dedica-se mais intensamente à música popular e começa a se afastar da diplomacia.

Soneto da Mulher ao Sol

Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruzA flor dos lábios entreaberta para o beijoA pele a fulgurar todo o pólen da luz.Uma linda mulher com os seios em repousoNua e quente de sol - eis tudo o que eu precisoO ventre terso, o pelo úmido, e um sorrisoÀ flor dos lábios entreabertos para o gozo.Uma mulher ao sol sobre quem me debruceEm quem beba e a quem morda, com quem me lamenteE que ao se submeter se enfureça e soluceE tente me expelir, e ao me sentir ausenteMe busque novamente - e se deixes a dormirQuando, pacificado, eu tiver de partir...


Poemas Infantis e Cancioneiro Popular

Do período que compreende 1964 à 1979, o Brasil sofre o golpe militar de 1964, cujo propósito era “pôr ordem em casa” .
A censura e a tortura não calaram as vozes dos nossos artistas e muitos tiveram que se exilar.
Ao longo desses 15 anos, Vinícius atinge o apogeu na carreira de compositor musical e afasta-se definitivamente da carreira diplomática.


A Casa

Era uma casa muito engraçadaNão tinha teto, não tinha nadaNinguém podia entrar nela, nãoPorque na casa não tinha chãoNinguém podia dormir na redePorque na casa não tinha paredeNinguém podia fazer pipiPorque penico não tinha aliMas era feita com muito esmerona rua dos bobos numero zero.


Testamento
Você que só ganha pra juntarO que é que há, diz pra mim, o que é que há?Você vai ver um diaEm que fria você vai entrarPor cima uma laje Embaixo a escuridão É fogo, irmão! É fogo, irrnão!FaladoPois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo... E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão, pensando à beça que não levou nada do que juntou: só seu terno de cerimônia. Que fossa, hein, meu chapa, que fossa...CantadoVocê que não pára pra pensarQue o tempo é curto e não pára de passarVocê vai ver um dia, que remorso! Como é bom pararVer um sol se pôrOu ver um sol raiarE desligar, e desligar...

Final de uma vida, continuação de uma carreira

Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes das canções do “Arca de Noé” com Toquinho, Vinícius veio a falecer.
Através de seus sonetos, o poeta conseguia facilmente aprofundar-se em temas complexos e significativos como a morte, o cotidiano e a denúncia social, e principalmente a paixão e o amor, por isso foi carinhosamente chamado de “o poetinha”.

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