sábado, 13 de setembro de 2008

Meu Tio Iauaretê - Guimarães Rosa

Meu Tio Iauaretê


Rosa? Rosinha amiga dinfância? Ah, sim, Guimarãe Rosa! Cunheço sim... Home intiligente, iscritor fai tempo. Seus livro fala muito de gente como a gente, do povo sertanejo. Diz por aí a fora qui o qui mais ficô marcado nele foi o jeito di iscrevê os livro: uma fala regional, oxê! E linguague du povo! Isso permitiu qui ele criasse muitos vocábulo a parti de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas. É consideradu pelos crítico um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, ao lado de Machado de Assis. Ieh! Eu fartava muita aula por causa da distância da escola, mas essa aula eu tava lá, era aula de uma tar de literatura, foi bão dimais ouvi falá do Guimarãe. Quiria sê igualzim ele.
Tava aqui agora lendo di novo uma história que a professora dessa tar literatura deu pra gente, o nome da história é Meu Tio Iauaretê. Fala di um oncero, mestiço de índia com branco qui conforme se embriagava com aguardente, contava diversas história de onça prum discunhicido viajante, hospedado em seu rancho. O legar é que cumeça cum diálogo que se mantém até o fim apenas com a fala do protagonista/narrador, ele qui é o oncero, um mameluco enviado pros confins do sertão com a incumbência de desonçar a região. O seu interlocutor silencioso parece perdido e bate na tapera habitada pelo bugre a fim de, supostamente, passar a noite e esperar reencontrar os companheiro di viage. Identifica-se ao totem, a onça, e tendo quebrado o tabu, efetuando sozinho o banquete totêmico, em vez de fazê-lo com a tribo, fica em débito com a sua espécie e com a que representa esse totem. Resta expiá o seu pecado se identificando cum totem e exterminando a espécie a que pertencera. Enquantu mantém um resquício di vida humana vive na tapera (que ele chama de “havéra”) onde discorre o seu drama para o visitante no período di uma noite. Se percebe intão que já é muito mais du que o mameluco quase selvage - “eu sou bicho do mato” - pois além de índio e branco entra em sua mestiçagem confessos caracteres du grande felino. Possui nomes tupis postos pela mãe: Bacuriquirepa, Breó, Beró (provavelmente derivado do neologismo tupi peró, pejorativo para português, e nome de branco: Tonico, ou Antonho de Eiesus, posto pelo pai e batizado por missionário. Prá completá a confusão a respeito da identificação do homem-onça, ele decrara em determinado ponto: “[...] tenho nome nenhum, não careço”. Nome próprio é custume di humano, e é só como tar que ele também nomeia as onça qui vai conhecendo e admirando. Passa a compreendê a língua das onça (jaguanhenhém) e mesmo a comunicar-se cum elas e as nomeá com nomes tupi ou inventados que reproduzem possíveis ruídos de onças. Ele, que não sentia farta de mulhé, ama agora a “Maria-Maria”, onça canguçu, mermo nome da sua mãe, a quem chama também Mar’Iara Maria, o que parece uma referência à divinização da mãe cunfundida com a onça amada, se considerarmo que Iara é o tratamento mais respeitoso pra mulhé e/ou home, e que também nomeia um ser mitológico poderoso: a mãe d’água, espéci di sereia tupi.
Esse contu tem um cruzamentu culturá, ondi si mistura o índio, o branco, o caboclo, o negro e até mesmo um animar, a onça. A língua usada nu contu é ainda portuguesa, enriquecida por elementos de origem indígena e pelo linguajar popular. Ieh, num to mole não! Num disse que quero ser iguarzim Guimarãe, intão, to cum o conto du oncero aqui na minha mão né, lendo pela nona veiz, e olha, parece qui a genti transforma, entra nu textu, faz uma metamorfose, iguá os bicho, oxe! Tem, que transformá a língua pra podê intendê o textu também. Ih, será que cês tão mi entendendu? Xi, vô visitá a iscola, vê se a professora de literatura trabaia lá ainda, às veiz ela pode corrigir esse texto pra mim...

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